Era mais uma sexta-feira enquanto eu morava na casa dos meus pais. Subia as escadas com o lanche que peguei no portão do condomínio com o entregador, distraída em meus pensamentos, até que a lembrança de uma cena corriqueira me fez parar: o som da conversa vindo da cozinha, o cheirinho da casa limpa e o calor de estar em família me tocaram de forma diferente.
Naquele instante, compreendi o valor de tudo aquilo. Aquela não era apenas uma noite de lanche — era um gesto de carinho, um momento de união. Estávamos juntos, dividindo o dia, a comida, as risadas. Algo tão comum, mas com um valor imenso.
Durante a adolescência, minha mente vivia no futuro: quando eu me casaria, como seria minha casa, meu trabalho, meus filhos. E nessa pressa por construir o que viria depois, deixei de enxergar a beleza do agora. Morar com meus pais, me sentir acolhida, ser parte da rotina — isso já era felicidade. Eu só não via.
Hoje, casada e com o “futuro” acontecendo, percebo o quanto viver o presente com mais atenção muda tudo. É ótimo ter estabilidade, viajar, alcançar metas. Mas nada disso tem brilho se não houver alguém para compartilhar. Um abraço, um olhar demorado, uma refeição simples — isso é o que mais importa.
A gente cresce achando que felicidade está nas grandes conquistas, nos momentos extraordinários. Mas, aos poucos, a vida mostra que ela mora mesmo no que é cotidiano. Nos vínculos. Nas pausas. No afeto sem alarde.
Quando passamos a valorizar o que parece banal, tudo muda de cor. A vida se torna mais leve, mais cheia de sentido.
Há muito valor em deitar em uma cama quente, em preparar uma refeição pensando em quem se ama, em fazer uma pipoca para dividir com quem te faz companhia todas as tardes, em orar à Deus de mãos dadas com quem está no mesmo propósito que você, e em um almoço de família no domingo.
E você, já percebeu quantas coisas maravilhosas — ainda que simples — te cercam hoje?
Ainda há tempo de transformar seu olhar. Não espere pelo extraordinário. O presente vivido com amor já é incrível o bastante.
Por Mylene Alves de Melo
Jornalista
